Filas....

Filas....

Hoje em dia existe fila em todo lugar. E elas são dos mais diversos tipos. Tem as tradicionais, que são as filas de banco, de supermercado, na padaria e também as de loja de brinquedo às vésperas do natal. E também tem as mais "modernas": na casa lotérica, no cinema ou na vídeo-locadora numa sexta-feira à noite. Universalmente a fila de banco é a mais odiada, já que uma vez nela você demora mais pra dar dois passos do que pra andar 100m em São Paulo na hora do "rush". A que eu mais gosto é a fila da casa lotérica. Olho pr'aquele painel "Acumulada R$52.000.000,00" e ja me imagino uma semana depois, no meio do mar, tomando sol no meu iate e dando festa todas as noites na casa da minha ilha, em que a mulher mais feia seria a Gisele Bündchen (que não tem bunda, mas é maravilhosa). Bom, na verdade a mais feia seria a minha, porque enquanto pobre eu nunca seria capaz de pegar uma Gisele Bündchen.

Não bastasse o tipo de fila, existe, também, o papo que rola em cada uma. Em fila de banco nunca ninguém conversa. Todo mundo está estressado e emburrado. E se olha pro cara de traz da fila, é com aquela cara de "porra, que saco!". Em fila de padaria, não. As pessoas são mais simpáticas. Até porque, na maioria das vezes as pessoas são vizinhas. Então, querem saber se o croissant de ricota com alcaparra é bom, se o pão doce está com cara de ser do dia, ou então aproveitam pra conversar sobre o poodle da vizinha do 104 que não para de latir um segundo. Mas o melhor papo que existe, é o de ponto de ônibus. Sempre é o mesmo assunto. Começa, invariavelmente, com um "quente, não?" ou com um "e essa chuva, heim?". Depois vem outra clássica que é "será que hoje vai atrasar? faz tempo que você está esperando?". E depois dessa pergunta já parece que as duas pessoas são amigas de infância, desabafando uma para a outra.

Mas nada é mais frustrante do que a fila do caixa do supermercado. Você se planeja pra ir num horário em que o supermercado está vazio. Faz as compras tranqüilamente. Mas na hora que chega no caixa, sempre está lotado. Uma vez aconteceu disso comigo. Era uma segunda feira, 18h. Entrei no supermercado para comprar um pacote de balas pra deixar no carro. O supermercado estava vazio. Até que fui pagar. O caixa de 10 volumes estava impraticável, de tanta gente na fila. Nos outros caixas, tinha no máximo 2 pessoas na fila. Mas pareciam que levavam, cada uma, um pouco de cada coisa que tinha no supermercado. Porra meu, quem é o filho da puta que vai fazer compra de mês numa segunda-feira às 18h? Até que eu olho pro lado e aquela fila exclusiva pra deficiente e idosos completamente vazia. A moça do caixa parecia que piscava, chamando minha atenção, pra eu passar minhas balas lá com ela. Foi só eu entrar na fila que começou a aparecer velhinho de todos os cantos. E todos estranhando eu estar ali. Tinha que arrumar uma desculpa. Rápido. Pra ajudar, eu não estava de óculos, se fosse assim eu diria que tenho vista parcial num dos olhos. Distraído, pensando na desculpa, a caixa chamou o próximo. Não entendi dirieto e soltei um "Uh?!". Não poderia ter havido melhor coisa para se "falar". Afinal, surdo/mudo, também é deficiente. Próximo! Uh?!. E apontava para o ouvido. Mas atendente de caixa parece que não sabe que surdo não escuta. E, com meu cartão na mão ela fala "Três reais e quarenta e oito centavos, senhor. É débito ou crédito, senhor?". Pra não colocar tudo por água abaixo, mais uma vez foi "Uh?!". E daí, parecendo entender, falei "débito", daquele jeito que fanho fala, sabe? Sem fechar a boca pra "modular" as palavras. Saí do supermercado me achando o cara mais malandro o universo, enquanto os que estavam nos outros caixas continuavam lá na fila.

No dia seguinte, tive que ir de novo ao supermercado. Em outro, né? Afinal, nenhum surdo/mudo se cura assim, da noite pro dia. Cheguei no caixa rápido e, por praga dos velhinhos do dia anterior, tinha uma senhora com um carrinho abarrotado de coisas. E a moça do caixa ainda teve coragem de dizer que o caixa dos idosos estava fechado, então ela poderia passar lá. Até imaginei a velhinha saíndo e se sentindo, como eu me senti, a pessoa mais esperta do universo.
Ah, mas eu ainda hei de estar na frente dela numa fila de decificientes e idosos e responder "Uh?!".