O homem de uma roupa só

O Homem de uma roupa só

Raul Seixas, em sua música "Meu amigo Pedro" coloca a seguinte passagem: "Toda vez que eu sinto o paraíso ou me queimo todo no inferno eu lembro de você, meu pobre amigo, que só usa sempre o mesmo terno". Talvez, influenciado por Ele, hoje vamos conhecer a história de Nelson.

Nelson, um jovem Marxista, de família de intelectuais, sempre foi muito dedicado aos seus estudos. Quando criança, nas férias que passava na casa de seu avô, Nelson era ninado com a leitura de "O Capital" e aos 18 anos, enquanto seus amigos começavam a dirigir, Nelson lia pela quinta vez a edição alemã do livro que marcara sua infância. Já nessa época, Nelson começou a apresentar a estranha mania de usar sempre a mesma roupa. Independentemente da ocasião ou do clima, sempre encontrava-se Nelson com sua camisa azul, sua calça jeans e a combinação de cinto e sapatos marrons.

Nelson sentia-se no paraíso quando tinha contato com as palavras de Marx. Para todo lugar que ia, sempre carregava sua bolsa preta contendo seus volumes da obra. Não exitava em citá-las onde quer que fosse, mostrando-se sempre um rapaz muito culto. Em virtude disso, aos 20 anos de idade, depois de muito ter viajado com seu avô, Nelson decidiu por estudar economia Heterodoxa na escola de Campinas. Lá teve contato com outros autores que o fascinaram. Sraffa, Keynes, Dillard, Napoleoni. Seus olhos brilhavam quando em contato com os livros desses autores, que eram facilmente devorados pelo jovem universitário, diferentemente do que acontecia quando entrava em contato com um jovem professor gordo com quem tinha aula e que só falava sobre "capitalismo tardio" e sobre a autodeterminação da economia brasileira.

Logo que se formou, Nelson já engatou um mestrado. O paraíso estava cada vez mais próximo. Mais Marx. Mais Keynes. Mais Kalecki. Porém, o inferno chegou e o queimou. Terminado o mestrado, Nelson se radica em Chicago para trabalhar na sede de um banco norte-americano. Lá teve contato com contabilidade empresarial. Em princípio, Nelson relutava, sentindo saudades de seus autores preferidos. Mas sua genialidade e facilidade para aprender, logo fizeram com que ele dominasse o assunto. Nelson também sentia-se em casa naquele país. Muitos jantares ao som de Garth Brooks, muitas visitas ao Wal Mart aos finais de semana...e mais. Como é um país de hábitos exóticos, seu hábito de usar sempre a mesma roupa era raramente notado por seus colegas de banco.

Passados muitos anos, Nelson decidiu abandonar o inferno. Deixou de lado seu ofício de auditor no banco norte americano e voltou para doutorar-se em economia heterodoxa. O paraíso estava de volta!

Nelson passou a ministrar aulas na sua querida escola de Campinas. Mas ocorre que havia um outro talento ministrando a mesma diciplina. Seu primo, Sérgio. Sérgio era mais querido pelos alunos, não apresentava hábitos exóticos. Então, Nelson, em uma disputa intelectual como jamais vista, rebelou-se e passou a descontar a raiva que sentia por dividir a cadeira e a mesma sala com seu primo em seus alunos. As aulas, inicialmente didáticas e anotáveis, passaram a ser ministradas em apagadas transparências e tornaram-se monotonas. Nelson fazia de seus alunos verdadeiras estátuas, sem poder virar para o lado, ou eram surpreendidos por um ataque de nervos. Nelson gostaria que seus alunos controlassem a fisiologia, impedindo-os de sentir vontade de ir ao banheiro ou sentir sede. As provas de Nelson tornaram-se temidas e impossíveis de se resolver. Enquanto Nelson estava no Paraíso, seus alunos estavam no Inferno!

Mas Nelson não poderia ser para sempre assim. Então, aos 53 anos de idade, Nelson decide que é hora de ser pai e vê o quanto precisa amolecer seu já petrificado coração. O espirito paternal o contagia e ele amolece seu coração também com seus alunos. Pela primeira vez que se tem notícia, 2 alunos foram aprovados em seus exames. Há pessoas que saem e retornam em suas aulas e até aquelas que chegam com mais de 15 minutos de atraso. Nelson, inclusive, abandonou seu Escort L branco. Porém, Nelson, embora com o coração amolecido, não deixou de usar a mesma combinação de roupa, de ministrar aulas maçantes e nem de aplicar provas e "exercícios" impossíveis de serem resolvidos.


Uma análise, agora, imparcial do Brasileirão 07

Uma análise, agora, imparcial do Brasileirão 07

Depois do confronto entre Cruzeiro e Flamengo, jogo adiado em função do Pan do Nuzman, a diferença de pontos entre São Paulo e Cruzeiro manteve-se em 9 pontos, dado que a equipe mineira foi derrotada por 3x1 em pleno Maracanã. Com isso, pode-se dizer que o título já está decidido. Segundo o comentarista Paulo Vinícius Coelho, nunca que uma equipe abriu 7 pontos ou mais de vantagem sobre uma outra equipe esta diferença foi invertida na história recente de campeonatos brasileiros por pontos corridos. Dessa forma, os 9 pontos que podem vir a tornarem-se 6 quando o campeonato já estiver em sua reta final, faltando 12 rodadas para o fim. A briga fica para se descobrir o vice-campeão e os demais colocados para a Copa Libertadores.

O Cruzeiro tem sua posição de vice-lider ameaçada pelo Santos, apenas 3 pontos atrás. Mas a equipe celeste tem em seu favor o fato de o peixe enfrentar o lider São Paulo na próxima rodada. Jogo que será realizado no Morumbi, onde a equipe tricolor sofreu apenas 2 derrotas durante toda a competição. Para manter-se como candidato ao vice, o Cruzeiro não pode perder a cabeça depois da derrota para o Flamengo, como aconteceu com o Botafogo depois do jogo contra o São Paulo, em que perdeu a invencibilidade no campeonato e não encontrou mais o futebol que apresentava.

O Flamengo, embora tenha vencido um jogo importantíssimo contra o Cruzeiro, não está em situação tranquíla. E isso se deve ao fato de, embora estar na décima-quarta posição, com 32 pontos, a equipe encontra-se a apenas 4 pontos de distância do primeiro colocado na zona de rebaixamento, o Atlético Paranaense (adversário do Cruzeiro na próxima rodada). O mesmo se aplica ao Goiás, que está no meio da tabela, e às equipes atrás dele. O time goiano encontra-se a 7 pontos da zona de classificação para a libertadores, o que dá uma tranquilidade apenas aparente (lembrar a estatística do PVC), já que, com 33 pontos, está a 4 da zona de rebaixamento. É bom que os 7 clubes que encontram-se entre Goiás (inclusive) e Atlético-PR não vacilarem, pois a situação não é cômoda.

A equipe que mais venceu é o São Paulo, 16 vezes, e é o líder da competição. A equipe que menos venceu é o América-RN. Com apenas 3 vitórias, é o lanterna do campeonato. A equipe que mais empatou é o Fluminense, com 10 empates e 9 vitórias. Tivesse vencido dois dos jogos que acabaram empatados, o Flu teria 41 pontos e ocuparia a 4ª posição na tabela. Mas isso não tira a possibilidade de a equipe carioca se classificar para a Copa Libertadores. Embora a briga na parte de cima da tabela esteja bastante equilibrada, do Palmeiras (4º) ao Internacional (9º) há uma diferença de apenas 5 pontos. Dessa forma, é bastante improvável que alguma outra equipe que não esteja nesse bloco consiga carimbar o passaporte para a competição internacional.

Uma comparação bem parcial sobre os Brasileirões 06 e 07

Uma comparação bem parcial sobre os Brasileirões 06 e 07

Hoje acontece a 25ª rodada do Brasileirão 07. Nela, o São Paulo venceu o Vasco da Gama por 2x0 e abriu 12 pontos de vantagem sobre o Cruzeiro (que joga as 18h e tem um jogo a menos. Assim, esses 12 pontos podem virar 6 durante a semana). Mas o ponto em que quero chegar não é esse. Mas, sim, fazer algo que jamais deve ser feito, mas valerá para título de especulações: comparar a 25ª rodada do Brasileirão 07 com a 38ª rodada do Brasileirão 06 (o correto seria uma comparação com a 25ª rodada do campeonato passado).

O desempenho do SPFC hoje é de 52 pontos em 25 jogos, sendo 16 vitórias, 6 empates e 3 derrotas, com 38 gols marcados e a incrível marca de apenas 7 sofridos, apresentando um saldo positivo de 31 gols. No ano passado, fidado o campeonato, o SPFC sagrou-se campeão com 78 pontos em 38 jogos, dos quais 22 foram vencidos, 12 empatados e 4 derrotados com um desempenho de 66 gols marcados (melhor ataque do campeonato) e 32 gols sofridos (melhor defesa do campeonato), resultando num saldo positivo de 34 gols (melhor saldo do campeonato).

Dessa forma, ainda havendo 13 jogos a serem disputados em 2007, eis algumas previsões:
- O São Paulo, que já tem tudo para ser campeão, precisa vencer apenas mais 8 jogos e empatar 2 nos 13 restantes para atingir os mesmos 78 pontos de 2006, embora a pontuação máxima que o clube possa atingir seja de 91 pontos.

- Na minha modesta opinião, o São Paulo precisa vencer apenas mais 5 jogos para já ficar com uma mão segurando a taça

- O São Paulo deverá sofrer, no máximo, 4 gols até o final do campeonato, finalizando-o com sua defesa sendo vazada apenas 11 vezes, uma marca histórica.

- O vice campeonato ficará com Cruzeiro ou Santos (embora eu aposte mais no Santos) e, em 2006 o vice campeão, Internacional, terminou com 69 pontos, 9 atrás do campeão.

- Hoje, na 25ª rodada do campeonato de 2007, o Cruzeiro sofreu o mesmo número de gols que o São Paulo marcou.

- Os 4 classificados para a Libertadores em 2008, na minha opinião, serão: São Paulo, Santos, Cruzeiro e Palmeiras, diferentemente de São Paulo, Internacional, Grêmio e Santos, que se classificaram para a Libertadores 2007

A Tecnologia e as Relações Sociais (humanas)

A Tecnologia e as Relações Sociais (humanas)

É de se estranhar como o avanço tecnológico está acabando com as relações sociais.

De fato, o avanço tem facilitado relações sociais, mas apenas de maneira direta. Hoje, conversa-se diretamente com uma pessoa via e-mail, MSN ou coisas do gênero. Quando se quer conversar com alguém, pega-se o telefone e liga-se direto para o celular dessa outra pessoa. Um meio de comunicação completamente rápido, direto e fácil.

Mas, como faz-se com a relação com os agregados? Explico. Antes, quando queria-se conversar com um amigo, não telefonava-se diretamente para seu telefone celular, mas para sua casa. Conversava-se com sua mãe/pai/irmã. Numa dessa já era ampliado o leque de relações. Ou, ainda, quando se começava a namorar uma menina, já podia-se conversar com o pai ou a mãe dela pelo telefone, passar uma boa impressão. Hoje em dia, não. É tudo direto. Conhece-se uma pessoa na balada, o telefone que ela passa (quando passa e quando é verdadeiro), é o celular e não mais o de casa.

Um dos últimos meios que nos resta para essa ampla comunincação é o Orkut. Mas, quem garante que o que está lá é verdade? Afinal, atrás de um computador todo mundo é lindo (a), rico(a) e tudo o mais que se possa inventar!

Keynes

Keynes

“O estudo da teoria econômica não parece exigir qualquer dom especializado de grande profundidade. Não é um assunto relativamente fácil quando comparado com a filosofia ou a ciência pura? Uma disciplina fácil, em que poucos se sobressaem! O paradoxo talvez seja explicado pela constatação de que o economista deve ter uma rara combinação de dons. Tem de ser matemático, historiador, estadista, filósofo - em certa medida. Deve entender de símbolos e falar através de palavras. Deve ver o particular em termos do geral, e abranger o abstrato e o concreto no mesmo pensamento. Deve estudar o presente à luz do passado para entender o futuro. Nenhuma parte da natureza humana ou de suas instituições deve ficar completamente fora de seu olhar. Deve ser ao mesmo tempo desinteressado e interessado, tão distante e incorruptível como um artista e, às vezes, tão próximo da terra quanto um político.”(Keynes, J. M.)


Será mesmo?

O Pan do Nuzman

O Pan do Nuzman

Já se passaram 3 dias do pan organizado pela carioquíssima dupla Carlos Arthur Nuzman-Cesar Maia e até agora, nada de medalhas de ouro para o Brasil. O mais puro reflexo da geração de atletas dos anos 90, crescidos ouvindo o Galvão vibrar com todas as vezes que o Rubinho Barrichello chegava em segundo lugar. Dessa forma, qualquer segundo lugar é bom.

Nosso ouro, se sair, vai ser de uma dessas modalidades:
- Vôlei Feminino (dado que nossas rivais do leste-europeu não participam do Pan)
- Vôlei Masculino
- Futsal
- Futebol Feminino
- Handebol Masculino
- Handebol Feminino
- Badminton duplas-masculino (força, Pezão)
- Salto Triplo

As novas sete maravilhas

As novas sete maravilhas

Não que eu discorde da beleza das novas sete maravilhas, eleitas no último dia 07. Discordo, apenas, do modo como se deu a escolha. Será que os lugares eleitos são mesmo os lugares "mais maravilhosos" do mundo moderno? Na verdade, minha discordância vai apenas com relação a uma única maravilha eleita: o Cristo Redentor. Não por eu ser paulista ou coisa do tipo, mas por discordar de sua indicação.

Desde a divulgação da primeira listagem de locais candidatos, me desagradaram a presença de locais como o Cristo, a Torre Eiffel, a Estátua de Liberdade e a Opera de Sydney. É fato que tais locais representam - muito bem, diga-se de passagem - seus países. E também não discordo da beleza de cada um desses monumentos. Porém, acho que numa eleição em que se tem concorrentes como Machu Picchu, Petra e Taj Mahal, esses locais não têm a mesma expressão. Quer seja pela beleza incomparável destas, ou até mesmo pelo seu tempo e História. De um lado, temos Tah Majal, construído nos anos 1600, ou então Petra e Machu Pichu, cujo período de contrução é desconhecido, temos, do outro lado, o Cristo Redentor tendo sido inaugurado em 1931.

Diferentemente do que jornais europeus, que questionaram o processo de eleição, meu único questionamento se dá quanto à indicação. Sobre a votação, cada pessoa que fosse votar poderia escolher outros sete locais, então não há tanta interferência o fato de no Brasil termos quase 190 milhões de habitantes, enquanto na Dinamarca tem-se menos do que 20 milhões. E também não há relevância o acesso desses países à internet, dado que, como poderia-se escolher mais de um "candidato", um mesmo europeu poderia votar em outros 6 locais de seu prórpio continente. Portanto, para mim o resultado é justo. Mas acho que, se for o caso de ter escolhido um representante brasileiro, seríamos muito melhor representados por candidatos como os Leçóis Maranhenses, alguma das Chapadas (Diamantina, ou Veadeiros) ou, ainda, as Cataratas do Iguaçú.

Curiosidade
Descobri, pesquisando na internet, algumas listas de sete maravilhas que foram feitas também e que são bastante interessantes. Seguem abaixo

Segundo a página Hillman Wonders, do mundo como um todo:
1) Pirâmides de Gizé
2)Grande Muralha da China
3)Taj Mahal
4) Migração do Serengueti (particularmente, desconheço o que seja)
5)Galápagos
6)Grand Canyon
7)Machu Pichu

Segundo a Sociedade Americana de Engenheiros Civís, do mundo moderno:
1)Eurotúnel
2)Torre CN
3)Empire State Building
4)Ponte Golden Gate
5)Usina hidrelétrica de Itaipú
6)Diques de Marés
7)Canal do Panamá

Maravilhas Naturais
1)Grand Canyon
2)Grande Barreira de Coral
3)Monte Everest
4)Aurora Boreal
5)Vulcão Paricutín
6)Cataratas Vitória
7)Floresta Amazônica

Maravilhas Subaquáticas
1)Palau
2)Barreira de coral de Belize
3)Grande Barreira de Coral
4)Erupções Subaquáticas
5)Ilhas Galápagos
6)Lago Baikal
7)Corais do Mar Vermelho

A Gaveta

A Gaveta

Não existe nada que seja mais íntimo do que uma gaveta. Principalmente a gaveta do seu criado mudo! É nela em que estão guardados todos os fragmentos da sua vida. Na gaveta é que se guarda desde aquela sua foto 3x4 que foi tirada sabe-se lá quando e que sobrou, até aquela sua foto com a primeira namorada na primeira viagem que vocês fizeram juntos: a formatura em Porto Seguro.

Mais ainda, pode-se tirar muito da personalidade de uma pessoa a partir da forma como ela organiza sua gaveta. Se a gaveta for daquelas impecáveis, em que se encontra tudo o que você estiver procurando até de olho fechado no escuro, então seu dono é uma pessoa metódica, que gosta de todas as coisas arrumadíssimas, até mesmo o porta-luvas do carro. Em compensação, se a gaveta for aquela zona, com tudo revirado e pulando pra fora quando você a abre, nem precisa que seja dito como é a personalidade da pessoa, não é?

Sendo a gaveta o objeto em que sua vida está melhor registrada até mesmo do que num diário, vai dizer que você não sente uma puta de uma raiva quando alguém resolve arrumá-la, ou ainda, jogar fora seus objetos. Aí vai lá sua mãe (se você ainda mora com ela) e começa a encontrar as coisas que você guardava lá exatamente para que ela não as encontrasse jamais, pensando que ela teria o mínimo de respeito à sua privacidade. E mais! Não obstante ela encontrar todos os fragmentos da sua vida, ela ainda tira satisfações sobre eles por todo o resto do ano. (Claro, sempre que tiver gente por perto, pra você ficar ainda mais constrangido)

Mas se a gaveta, que o lugar mais privativo que alguém poderia ter, já não o é mais, qual outro lugar poderia sê-lo? Onde é que você vai guardar sua coleção de (cinco) moedas; as suas figurinhas repetidas da Copa de 1998; os bilhetinhos que foram trocados durante a aula de Biologia no colegial ou as fotos da despedida de solteiro do seu melhor amigo? Onde você vai esconder seu maço de cigarro, suas camisinhas, sua Playboy da Sabrina Sato?


Ele e Ela

Foi um caso de amor à primeira vista. Não necessariamente de âmbas as partes. Pelo menos ele se apaixonou no primeiro momento em que a viu, ainda nos tempos de colégio.
Em função de sua timidez exagerada, sempre hesitava em trocar algumas palavras com ela, embora tivessem amigos em comum e vez ou outra estivessem juntos em algum bar com os amigos.

O tempo foi passando e, com isso, foram se aproximando cada vez mais um do outro. Não que agora fossem exatamente íntimos. Pelo menos já tinham algum contato a ponto de trocarem meia dúzia de palavras quando se encontravam isoladamente. Para ele, isso era algo fascinante. Para ela, ele era apenas mais um amigo.

Continuavam saíndo com seus amigos para os mais diversos lugares. Boates, churrascos, jantares finos, bares, cinemas e todos os demais programas que amigos gostam de fazer juntos. A simples presença dela nesse evento já fazia com que ele tivesse ganho o dia. Porém, nunca criou coragem para se declarar a ela, mesmo com alguns sinais de que, com quase certeza, seus sentimentos fosse recíproco.

O tempo continuou passando, o amor por ela aumentrando e também ela encontrava-se apaixonada por ele. Mas ainda sem entender o porque de ele ser tão tímido.

Mas o tempo não parou e meses depois ela começou a namorar um colega do trabalho e ele continuou sozinho, com sua timidez.

Encontros e desencontros

A ultima vez que tinham se visto fora na formatura da faculdade, 15 anos atrás. Agora estavam ali, lado a lado no avião.

- Você não é o....?
- Vinícius, sou. E você, o Guilherme?
- Meu Deus!! Você continua igualzinho.
- Ha, que nada. Você que está a mesma coisa!

E ficaram ali lembrando dos tempos de estudantes. Quantas colas nas provas de final de semestre. Quantas idas e vindas juntos para os encontros nacionais dos estudantes de engenharia. Quantas festas na república do Rafael, o Sansão! Bons Tempos.

- E a Ritinha, notícias dela?
- Desde que terminamos, nunca mais a vi. Parece que ela casou e agora está morando fora. Você continua no banco?
- Larguei. Abri meu próprio negócio. Uma empresa de brindes. To indo visitar um cliente em Natal. E você? Vai pra Natal ou desce em Salvador?
- Salvador, minha mãe agora mora lá.

Nisso o comandante anuncia que estavam sobrevoando Salvador e estavam prestes a aterrisar.

- Que pena, precisamos nos reencontrar
- Claro. Quando voltar pra Porto Alegre eu telefono pra você. Vamos marcar de reunir todo mundo, o povo da faculdade...
- Vamos sim, quanto tempo!

Trocaram cartões com o número de telefone, e-mails e nunca mais se encontraram. Apenas se enviam e-mails com arquivos powerpoint e algumas piadas de vez em quando.

Pontos de referência

Pontos de Referência

Não existe nada mais útil do que os pontos de referência. Se você estiver perdido e for pedir informação para alguém, logo será descarregado de pontos de referência para você achar e saber se guiar. Mas os melhores pontos de refência não são lojas, placas ou plantas. São pessoas. Os famosos "gordinho", ou "peruca" etc. Desconsiderando-se os pontos de referência que servem como "guia de trânsito", existem dois outros tipos de pontos: chamemos de os da "cidade" (shoppings, supermercados e afins) e os de "férias" (praia, piscina do clube etc).

O único ponto de referência que consegue ser ponto de referência tanto na "cidade" como nas "férias", são os(as) gordinhos(as) de sempre. Esses estão fadados a serem pontos de referência em qualquer lugar que estiverem, só têm desvantagens.

Além dos gordinhos, outro tipo facilmente identificável do tipo "cidade", é o cara que usa peruca. Ele, crente que ninguém percebe que ele usa peruca, desfila naturalmente pela cidade. Mas esses, além de serem ponto de referência, são também marca registrada. "Sabe o Paulo, do 103? Aquele da peruca!". A única vantagem deles é poder mudar radicalmente de visual. Mas nenhum o faz, para ninguém perceber que eles usam peruca.

Existem, também, os cabeludos e os "gigantes". Mas destes, o que mais chama a atenção mesmo são as mulheres altas. Começa que uma mulher dessa só vai casar se for com um cara mais alto ainda. Afinal, homem que é homem não gosta de mulher mais alta que ele. Ela só pode ser mais alta se estiver de salto. E ainda assim, vai ser raro, já que isso só vai acontecer em festas. E homem que é casado com mulher mais alta também vira ponto de referência.

Já no tipo "férias", em oposição aos gordinhos, estão os magrelos. Tem coisa mais horrível do que se estar na praia e passar aquele cara magro, branquelo, com aquela sunga da C&A preta com uma faixa vermelha do lado? Ou então você estar no clube tomando sol e na cadeira do lado um ser que mais parece um bando de costelas cujos músculos dos braços e pernas parecem que não existem? Por incrível que pareça, tem! E pior que os magrelos, só aquela cara que parece uma bola de pêlos. Ou melhor, ele é um ser peludo que é humano nas horas vagas. Quem nunca soltou um comentário "olha o Tony Ramos vindo" quando aparece um desse. Para a sorte dos que têm o azar de serem magrelos E peludos, não existe a fusão das duas opções. Afinal Um magrelo peludo, parecendo um poodle que acaba de sair da tosa, acaba anulando o fato de ser magrelo e desfilar seus ossos por onde vai. Fica só com a opção "pelos".

Filas....

Filas....

Hoje em dia existe fila em todo lugar. E elas são dos mais diversos tipos. Tem as tradicionais, que são as filas de banco, de supermercado, na padaria e também as de loja de brinquedo às vésperas do natal. E também tem as mais "modernas": na casa lotérica, no cinema ou na vídeo-locadora numa sexta-feira à noite. Universalmente a fila de banco é a mais odiada, já que uma vez nela você demora mais pra dar dois passos do que pra andar 100m em São Paulo na hora do "rush". A que eu mais gosto é a fila da casa lotérica. Olho pr'aquele painel "Acumulada R$52.000.000,00" e ja me imagino uma semana depois, no meio do mar, tomando sol no meu iate e dando festa todas as noites na casa da minha ilha, em que a mulher mais feia seria a Gisele Bündchen (que não tem bunda, mas é maravilhosa). Bom, na verdade a mais feia seria a minha, porque enquanto pobre eu nunca seria capaz de pegar uma Gisele Bündchen.

Não bastasse o tipo de fila, existe, também, o papo que rola em cada uma. Em fila de banco nunca ninguém conversa. Todo mundo está estressado e emburrado. E se olha pro cara de traz da fila, é com aquela cara de "porra, que saco!". Em fila de padaria, não. As pessoas são mais simpáticas. Até porque, na maioria das vezes as pessoas são vizinhas. Então, querem saber se o croissant de ricota com alcaparra é bom, se o pão doce está com cara de ser do dia, ou então aproveitam pra conversar sobre o poodle da vizinha do 104 que não para de latir um segundo. Mas o melhor papo que existe, é o de ponto de ônibus. Sempre é o mesmo assunto. Começa, invariavelmente, com um "quente, não?" ou com um "e essa chuva, heim?". Depois vem outra clássica que é "será que hoje vai atrasar? faz tempo que você está esperando?". E depois dessa pergunta já parece que as duas pessoas são amigas de infância, desabafando uma para a outra.

Mas nada é mais frustrante do que a fila do caixa do supermercado. Você se planeja pra ir num horário em que o supermercado está vazio. Faz as compras tranqüilamente. Mas na hora que chega no caixa, sempre está lotado. Uma vez aconteceu disso comigo. Era uma segunda feira, 18h. Entrei no supermercado para comprar um pacote de balas pra deixar no carro. O supermercado estava vazio. Até que fui pagar. O caixa de 10 volumes estava impraticável, de tanta gente na fila. Nos outros caixas, tinha no máximo 2 pessoas na fila. Mas pareciam que levavam, cada uma, um pouco de cada coisa que tinha no supermercado. Porra meu, quem é o filho da puta que vai fazer compra de mês numa segunda-feira às 18h? Até que eu olho pro lado e aquela fila exclusiva pra deficiente e idosos completamente vazia. A moça do caixa parecia que piscava, chamando minha atenção, pra eu passar minhas balas lá com ela. Foi só eu entrar na fila que começou a aparecer velhinho de todos os cantos. E todos estranhando eu estar ali. Tinha que arrumar uma desculpa. Rápido. Pra ajudar, eu não estava de óculos, se fosse assim eu diria que tenho vista parcial num dos olhos. Distraído, pensando na desculpa, a caixa chamou o próximo. Não entendi dirieto e soltei um "Uh?!". Não poderia ter havido melhor coisa para se "falar". Afinal, surdo/mudo, também é deficiente. Próximo! Uh?!. E apontava para o ouvido. Mas atendente de caixa parece que não sabe que surdo não escuta. E, com meu cartão na mão ela fala "Três reais e quarenta e oito centavos, senhor. É débito ou crédito, senhor?". Pra não colocar tudo por água abaixo, mais uma vez foi "Uh?!". E daí, parecendo entender, falei "débito", daquele jeito que fanho fala, sabe? Sem fechar a boca pra "modular" as palavras. Saí do supermercado me achando o cara mais malandro o universo, enquanto os que estavam nos outros caixas continuavam lá na fila.

No dia seguinte, tive que ir de novo ao supermercado. Em outro, né? Afinal, nenhum surdo/mudo se cura assim, da noite pro dia. Cheguei no caixa rápido e, por praga dos velhinhos do dia anterior, tinha uma senhora com um carrinho abarrotado de coisas. E a moça do caixa ainda teve coragem de dizer que o caixa dos idosos estava fechado, então ela poderia passar lá. Até imaginei a velhinha saíndo e se sentindo, como eu me senti, a pessoa mais esperta do universo.
Ah, mas eu ainda hei de estar na frente dela numa fila de decificientes e idosos e responder "Uh?!".